Feliz Natal

Dez anos passaram. 
Há estrelas, mas é impossível saber se vivem. 
São essa perfeição pela distância. 
A ilusão de vê-las diz delas o suficiente. 
Sonhei com você.
Aqui não há chuvas e ventou forte ontem na maturidade da noite. 
A saudade aguda e a vastidão do firmamento conduziram ao sono.
Viva em mim, mas impreciso vê-la. 
Amo você.

A SOMBRA



Aquele vento nos pinheiros sombrios antigamente
Agora insiste nestas árvores próximas às janelas
O idêntico medo pavor sendo banhado friamente 
As pálpebras desejando manhã ensolarada nelas

PLURAL


É verdade... a beleza da vida, a tal hermenêutica da psicanálise das aulas
Libélulas de variadas cores nos nós dos arames enfarpados de setembros
Meus pais distraindo-se com risos e brincadeiras como tivessem sete anos
Eu mesmo já envelheço desta alegria, confesso,mas nos primeiros passos.

Traveling


Por que haveria
o espírito livre
do corpo
circundar a mesma casa
as mesmas ruas
repetindo trajetos sabidos?


QUICÁ


Não faço poesia
nem sei se faço poesia
penso que faço
pensar não é fazer
fazer é uma ação
que também não cabe.

Mas há poesias
se elas assim o forem
fique claro
que querem uma síntese
mas isto é para grandes
poetas
e eles mesmos
negaram isto
quero dizer
os poucos que conheço
na verdade
não os conheço
pois quando os leio
leio a mim
um desconhecido
que estou
mais acostumado.

Mas noto alguns
acontecimentos
encobertos pelo dia
envolvidos de noite
ausentes de sol
e tento escrevê-los
achando que talvez
por um lapso de sorte
representem
algo, uma dúvida ao menos.

PALAVRA NOVA


Muito raramente,
de vez em quando,
saio pelas ruas sem hora
marcada pra voltar
ou por conta
de responsabilidades
inadiáveis.

Digo que até
não gosto de
sair pelas ruas,
mas muito raramente,
por vezes aprecio,
pois é tão difícil
uma palavra nova
nascida com sentido.

E é bem isso,
para a maioria,
faz-se
raramente,
o que se gosta.
Sabiamente
vão encontrando
pequeninas ações,
escapismos,
licenças
e inesperanças.