AUTOAJUDA


Dez conselhos para reconhecer se uma mulher quarentona está apaixonada por você e algumas artes pra seduzí-la. Da séria série: Dicas úteis para uma vida inútil.

     Esta lição é dirigida aos homens atrapalhados, solitários, fracassados ou evasivos. Não serve para os bem-sucedidos, com ares executivos, assemelhados aos heróis do cinema americano. É um roteirinho de autoajuda exclusivo para inteligências perturbadas e diz respeito a mulheres quarentonas de fino trato. Vamos a ele:

1. Existem sinais clássicos de apaixonamento observados por estudos biológicos. A mulher se interessa por físicos bem afeiçoados, evidentemente. Na falta de atributos atléticos gregos, será mesmo necessário apelar. As mulheres de quarenta anos são semelhantes às mães de recém-nascidos, ou seja, sentidos aguçadíssimos. Entretanto, no caso em questão, o olfato é a melhor sugestão de ataque. A química não é pautada por perfumes, embora ajudem. É algo que transcende a este aspecto regulando-se por suores e lágrimas. Repare que ela tende sempre a se aproximar do seu pescoço, pois esta região é a queda dos rios subjetivos.

2. A postura corporal da mulher muda quando diante do ser supostamente desejado. Seus ombros encolhem com facilidade para frente. Ela está pedindo proteção e testando sua capacidade de ofertá-la. Nunca chegue frontalmente. Isso inibe a entrega. A mulher da qual se fala é do mundo desse tempo. A vida é árdua, mas ela não é frágil e nada reconhecerá sem o uso da própria liberdade.

3. Seja sempre atencioso e nunca pergunte se ela está apaixonada por você. É maior besteira que lhe acometerá. Deixe-a dizer livremente. Muito provavelmente ela nem pensa em comentar tal absurdo e, se o fizer, lhe dirá que não está. Calma, o mundo não está perdido. Com muito cuidado, afirme que você também não está. Lembre-se, para controlar aceiros é necessário jogar fogo contra fogo.

4. Além dos ombros levemente caídos, esqueça sinais do tipo mostrar as mãos e os dentes, jogar o cabelo pra trás e fazer carinhas e bocas de modelo. Isso é coisa de mulher de vinte ou trinta anos, sendo mais raros nas do segundo tipo, já muito estudada por Balzac. A mulher de quarenta anos é um ser prático e quase não demonstra gestos característicos, tornando tudo muito natural, perigoso e de admirável neblina. Portanto, o maior sinal é exatamente a falta de sinais. Vale lembrar que este pequeno roteiro de autoajuda carece de pensamento dialético para ser interpretado.

5. Não se pode classificar o olhar dela porque o olhar que a ela se dirige costuma confundir as interpretações, mas é bom ver a frequência dessa interlocução e atribuir predicados de síntese, tais como: amável, incisivo, investigativo, displicente, direto, pensativo, dentre tantos incertos.

6. Pelo amor de Deus! Não caia na besteira de pensar em zonas erógenas. Isso serve para mulheres mais novas. Uma mulher de quarenta já exige outros cuidados. Lembre-se de que elas são vividas, são donas de histórias doloridas, são de beleza não muito distante como nos ensinou o senhor Gabriel Garcia Marquez e, são de outra ordem no universo, e o universo está sempre em expansão. Do mesmo modo, em constante mutação,  o desejo se abre é um procurar de flores raras em campo vasto. Estude o comportamento dos elétrons na teoria complexa dos orbitais. É difícil, mas paciência é o segredo. Outra boa pedida é ler Donatien-Alphonse-François Sade.

7. Escreva ou copie boas poesias de outros e as dê para ela, desde que sejam singelas e não parnasianas. Fale de sexo com elegância, importe-se verdadeiramente com os sentimentos dela. Mande mensagens inusitadas. Repare, aos poucos o confiará à rotina dela. Sinta o tempo disso como algo que você colhe, seguindo sempre o exemplo dos girassóis. Você acha que Van Gogh pintou girassóis à toa. Faça-a se sentir  acompanhada, porque nessa idade a solidão já passou a ser um problema quase esquecido. Mesmo longe, contate apenas o suficiente para não tirar dela o prazer tão esperado de sua distância. Detalhe, isto vale para qualquer idade. Dialética de novo. Estude algum filósofo da linha de Heráclito ou Kierkegaard . É o jeito. Fuja dos racionalistas e dos iluministas. Razão não tem nada a ver com esta história. Ou teria?

8. Nunca subestime a inteligência dela. Jamais. Isso é erro fatal e você será riscado sem piedade. Mulheres, agora não interessa novamente a idade, são seres implacáveis. Pense: se geram a vida, terão o poder, mesmo que simbólico, de tirá-la. O raciocínio feminino é de ordem totalmente diferente do masculino, mas não oposta. Mulher é o lugar do vazio. Se o Chico Buarque confessou que não entende as mulheres, não vá ser você o metido a besta de se achar expert num assunto cujas raízes remontam à época das cavernas, mesmo porque, se você fosse tão bom assim, não estaria aqui lendo esta receitinha. E tem mais, a graça delas vem desse mistério.

9. Deixe-a falar de trivialidades. Mulheres adoram isso. Mas evite dar palpite. Fique na sua. Pois não demora muito virá uma pergunta difícil. Aí, é melhor você a fingir que não ouviu. Normalmente não dá certo. Ela fatalmente vai repetir a pergunta..., sem chances pra você. Então, tente imaginar cenas metafóricas pra responder, pois perguntas assim são como eliciadoras de sonhos. Sonhos são imagens de sentimentos complexados num núcleo poderoso. Mulher é um sonho. Excetuando-se o fato de que sonho é uma loucura de pequena duração.

10. Caso nada disso adiante, na primeira oportunidade, mostre-se bastante desesperado.

11.Não se pode contar com literatura de autoajuda.

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