Seu poder sobre o tempo
impedirá que escorra?
E estando deitada
num Domingo sonso
como esquecerá
na mão o cheiro molhado?
Num verão, diga-me
sobre o banho em seu filho,
as pequenas roupas que nele
veste,
o modo como suga seu leite,
o choro que lhe pede
a vigília na madrugada.
Dê-me presentes simples
que eu possa tatear
repita carícias desfeitas,
fluidas, afiadas e ácidas.
Como poderei saber
das flores de seu jardim,
dos frutos que frequentam
intestinos de pássaros
e cestas sobre mesas?
O conforto em momentos
de profunda tristeza
no desenho de seu ombro.
Eles virão certamente
aguardar o sol, romper laços,
regar o rosto, apertar os
dentes,
cumprir a amargura, esperar.
Num inverno, diga-me
sobre a letra de seu filho,
seu rosto redondo iluminado
do sorriso da mãe e do olhar
do pai,
da inteligência de suas
perguntas,
do deslumbramento orbitado
que há na alegria das
crianças.
Como poderei saber
de suas viagens, de sucessos,
de festas, de doenças
curadas,
de outras temidas e
ferimentos?
Nosso trabalho, nossas
taças de vinho quebradas
contra a maciez da memória.
Por que pensa deixar-me?
Com que arrogância julga-me
isentar de dor por este
gesto?
Endoideceu? Acaso esquece
da tanta vida que ainda há?
Quero num outono determinado
contar mais que folhas
caídas,
mais que vermelhos no céu,
muito mais em sua boca,
em seu ventre, em sua paz.
Ouvir que agora desconfia
saber que seu filho
masturba-se
semeando gemidos perto de sua
casa
sob sombras de pinheiros
crescidos.
Os cremes e perfumes que agora
usa,
o que notou acontece em seu
corpo,
A nossa capacidade de olhar,
respeito de carinho infinito,
a pele da palma de sua mão
na tarde esquecida em seu
sono.
Pedindo ajoelhado, suplicando
o ser vazio desta reposta.
Posso mudar o rumo pequeno
do que não escolhi se me fiz
ser livre, ofender
mortalmente
muita gente amiga que ignora,
perseverar a abstinência,
comprar sonhos numa padaria,
chuva antes e depois do nome
do hotel,
varar uma manhã de bom livro
uma estaca de farpas contra
coração de bandidos
violentos,
cortes finos, profundos ... o
sangue
vai demorando, mas aparece.
E numa primavera qualquer
Semelhante que é ao amor
comentar a tolice da saudade,
na barriga normalizada
por fora e por dentro,
pousar.
Diga-me com seu modo doce:
Seu bobo, é menina... é
menina.
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