FEIJÃO ROSINHA



Aqui, onde a serra da Mantiqueira pende para o lado sul de Minas Gerais, gradeia-se em lugares de terra escura e recoberta de pedras pardas de variados tamanhos e formas, enfeitando amiúde os pés de arroz-do-diabo ou chifre-de-carneiro ou maria-leite ou capim-gordura nos pontos de erosão. No meio de pequenas laranjeiras de folhas verde-claras e de tão novas cheirando a sulfatos, planta-se o feijão das águas. E nasce nas primeiras chuvas do final de setembro a plantinha de duas palmas de mãos dizendo amém. E são necessárias duas "carpas" e depois se deixa ao tempo, se esquece... forma maior de reconhecimento da natureza. Em algum dia na manhã, o sol é apagado por leves mantos de seda negra. Então, corre-se para o rancho e busca-se uma peneira de arame em quadrados trançada. A peneira lembrada em canções antigas e leitos curvos de córrego de águas limpas na qual pululam lambaris sobre seu plano, milagres, risos consequentes. Predadora também de girinos de pernas traseiras feitas ou não, besouros de galhos, sanguessugas, mandixingas, carás, inguilas miúdas e tuviras de danças serpenteadas... sim, sobre ela depositam-se uma a uma as vagens, bainhas ora rosas ora esbranquiçadas ora amarelas da leguminosa nova cheirando a leite materno. E é uma festa aquela de crianças ao redor a debulhá-las, cortando os fios do ventre dos bagos enquanto limpam o nariz com costas de antebraços. E por qualquer coisa se sorri e por qualquer coisa se briga. E não demora, a peneira está repleta e pesada de grãos granados, úmidos e o carinho deles no vão dos dedos é suave. Brincadeira de imitar o tempo.

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